segunda-feira, junho 01, 2009

Os alunos eram preparados para construir, além de fazer projetos.(...)

Pensamentos sobre trechos Do livro de Sergio Ferro: Arquitetura e trabalho livre.

“A obra realizada de arquitetura esconde e revela um projeto; como qualquer realização, deforma-o atenuando e alterando, na prática, suas propostas iniciais. Mas guarda, mesmo assim, sua orientação básica. E, por isto, a obra permite reconstruir, com razoável segurança, os traços mais significativos da estrutura do projeto.”(FERRO.pag47)
“Toda arquitetura moderna atuante e responsável levanta propostas para o atendimento de um progresso esperado e de necessidades coletivas – o que é normal em atividade cujo o núcleo, o projeto, inclui sempre o futuro a ser construído por muitos.” (FERRO.pag47)
“Brasília marcou o apogeu e a interrupção destas esperanças: logo freamos nossos tímidos e ilusórios avanços sociais e atendemos ao toque militar de recolher.”(FERRO pag.49)
“Alienados de sua função real por um sistema caduco, reagem dentro da faixa que o sistema lhes atribui, aprofundando, com isto, a ruptura entre sua obra e a situação objetiva a ser combatida.”(FERRO pag.50)
“Vigas necessárias que se escondem; dimensionamento arbitrário; abóbadas que são lajes; abundância de painéis de concreto inúteis; demonstrações de robustez enganosa, são, praticamente, as ferramentas principais.”(FERRO pa.53)
“Assim, por exemplo, na ausência de uma arquitetura industrializada, já testada, possível e teoricamente aceita, multiplicam-se os detalhes que seriam típicos de um sistema de peças prontas, ou diversificam-se e explicitam-se funções que não tem fundamento no processo artesanal de construção, ou são propostos esquemas de programas socializantes para situações ultra-particulares; fechaduras, montantes, peitoris, (...) (FERRO. Pag.57)

Os paragrafos foram dividos entre assuntos como: a cisão, no momento da ditadura militar, mudanças no papel do arquiteto perante o projeto e a obra, gerando a partir dessas mudanças as mascaras sobre o sistema da estrutura da obra, a linguagem dos signos e a falta de visão estrutural, isto é, a industria produzindo elementos de composição para o detalhamento do edifício, ao invés, de direcioná-la para o sistema construtivo.
O texto: Arquitetura Nova, escrito em 1967 procura alinhavar, com muito comprometimento do autor com as palavras, as questões do projeto, obra e técnica. Porém sua abordagem é direcionada para o momento em que a politica do país está em mudança radical e o anuncio do progresso influencia para novas esperanças de uma nova arquitetura. Naquela época, os jovens arquitetos estavam preparados para aplicar o conhecimento em favor de uma arquitetura social, mas a ditadura militar, castrou, segundo Ferro, a arquitetura brasileira tornando-a ampla de contradições. Contradições entre os arquitetos, alienados de sua função real, com as obras de cunho particular como residências, clubes e lojas realizadas pelos mesmos, obras que expressavam como denuncias as contradições, segundo Ferro.
Diante de todo esse discurso em defesa de uma direção da arquitetura
brasileira, para um ideal social, que infelizmente foi barrada pelo contexto social e político, eu me pergunto, como o ensino colaborou até esse momento?
Os alunos eram preparados para construir, além de fazer projetos. Sua formação era para o desenvolvimento paralelo ao progresso, inclusive da industria da construção. Isso parece que foi sendo modificado, até os dias de hoje, em que a formação do arquiteto está cada vez mais distante do processo construtivo e das técnicas utilizadas na construção.
A tentativa do canteiro experimental, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, é quase que uma “denuncia” para a importância da construção na profissão de um arquiteto, mas essa “denuncia” não acontece em outras faculdades. Ferro teve a sensibilidade em perceber, o futuro, o quanto o contexto social e político estava causando um desvio para uma nova arquitetura e função do arquiteto. Hoje a arquitetura tornou-se uma mercadoria de luxo e aqui fica uma questão: Quais foram os fatores para essa mudança? Ferro, por meio de textos muito bem elaborados, muitas vezes dificil de entender na primeira leitura, é extremamente consciente em sua linha de raciocínio, ele nos passa um total comprometimento, quase um juramento de fidelidade, às suas propostas. (ROYZEN, Beatriz. 2009)

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